Um dos temas centrais que movimentam as discussões e debates sobre impactos ambientais são as contribuições dos setores produtivos para ampliar o desenvolvimento da sociedade global rumo a um ambiente de baixa emissão de carbono. Neste sentido, nota-se como a indústria automotiva tem desenvolvido tecnologias para a redução de impactos ambientais, principalmente na diminuição de emissões de poluentes. E os ganhos ambientais e de sustentabilidade para consumidores e toda a sociedade estão associados ao tripé “tecnologia – menor consumo – redução de emissões”. Mas um componente muito interessante vem influenciando os caminhos de montadoras e indústria de lubrificantes a responderem a esse desafio de maneira cada vez mais em sintonia com os anseios de uma sociedade mais eficiente e menos poluidora: as leis e normas ambientais.

No Brasil, no dia 6 de maio de 1986, a Resolução nº 18 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) criou o Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores – PROCONVE. Coordenado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), o programa definiu os primeiros limites de emissões para veículos leves, contribuindo para o atendimento aos Padrões de Qualidade do Ar instituídos pelo Programa Nacional de Controle de Qualidade do Ar (PRONAR). Em 28 de outubro de 1993 a lei nº 8.723 endossou a obrigatoriedade de reduzir os níveis de emissões dos poluentes de origem veicular, colaborando para o desenvolvimento tecnológico dos fabricantes de combustíveis, motores e autopeças.

Em 2002, a Resolução nº 297 do CONAMA criou o Programa de Controle da Poluição do Ar por Motociclos e Veículos Similares – PROMOT, com o objetivo de complementar o controle do PROCONVE e contribuir para reduzir a poluição do ar por fontes móveis no Brasil.

“Essas leis e regulamentações ambientais ajudaram muito as montadoras na evolução do nível de tecnologia dos motores e na redução do consumo de combustível e de emissões”, concorda Franck Turkovics, consultor e especialista em inovação automotiva.

Segundo Turkovics, uma das resultantes dessa influência é a oferta aos consumidores de veículos movidos a energia 100% elétrica e dos modelos híbridos dotados de motores elétrico e a combustão.

Em estudo recente (2016), os pesquisadores Orlando de Salvo Junior e Maria Tereza Saraiva de Souza mostram que a regulamentação de emissões de gases poluentes no Brasil fomentou a inovação na indústria automotiva para mitigação da emissão de poluentes pelos automóveis com a introdução de tecnologias como injeção eletrônica de combustível e catalisador, além de promover melhorias na motorização dos veículos.

“Diante das mudanças identificadas, a regulamentação leva a um processo de balanceamento tecnológico entre as montadoras com ganho de escala, de modo a favorecer a difusão de tecnologias ambientais para mitigar as emissões de gases tóxicos”, dizem os pesquisadores.

Setor de lubrificante: importante player na transição para o baixo carbono

Para Simone Hashizume, diretora da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), o desenvolvimento da indústria automotiva, cada vez mais voltada para atender às demandas ambientais e tecnológicas, “é a engrenagem que move a indústria de lubrificantes” nas questões relacionadas à redução das emissões de carbono.

“Motores menores com potência só antes encontradas em motores de maiores cilindradas, lubrificantes cada vez com menores viscosidades, pressões e temperaturas mais altas de trabalho e menor volume de lubrificante no cárter, além de menores emissões, são os desafios que a indústria de lubrificantes enfrenta para acompanhar as legislações ambientais”, enumera.

No caso específico da indústria de lubrificantes, Hashizume diz que o setor contribui ativamente para a proteção ambiental, desenvolvendo tecnologias em seus produtos que fazem com que os veículos, por exemplo, ampliem os períodos de troca, utilizem menor volume de lubrificante no cárter, emitam menos poluentes e gerem menos depósitos nos motores, além de promover e incentivar legislações específicas para recolhimentos das embalagens, coleta obrigatória e destino adequado para óleos usados.

Em relação aos lubrificantes, Turkovics observa ainda que essas tecnologias oriundas das evoluções das leis e normas ambientais foram aplicadas também para reduzir atrito entre os componentes do motor, como anéis e pistões. “O uso de óleos básicos sintéticos e aditivos de alta tecnologia permitem o aumento da vida útil do motor, do lubrificante, menor impacto nos catalisadores e menor consumo de combustível”, completa Hashizume.

A diretora da AEA observa ainda que se a indústria de lubrificantes não respondesse a demanda das montadoras, “com certeza, não teríamos os avanços tecnológicos de downsizing e booster dos motores”, no que diz respeito a alta performance, tamanho reduzido e maior potência, menor volume no cárter, operação em maior temperatura, baixas emissões e possibilidade do uso de biocombustíveis.

“A indústria do lubrificante é um importante player para a transição de uma sociedade de baixo carbono”, assegura Hashizume.

Para saber mais:

. Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA
http://www2.mma.gov.br/port/conama/
. Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores – PROCONVE
https://www.mma.gov.br/estruturas/163/_arquivos/proconve_163.pdf
. Programa de Controle da Poluição do Ar por Motociclos e Veículos Similares – PROMOT
https://www.mma.gov.br/estruturas/163/_arquivos/promot_163.pdf
. Resolução CONAMA nº 492, de 20 de dezembro de 2018, que estabelece as Fases PROCONVE L7 e PROCONVE L8 para veículos automotores leves novos de uso rodoviário
http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=742
. Resolução CONAMA nº 493, de 24 de junho de 2019, que estabelece a Fase PROMOT M5 para controle de emissões de gases poluentes e de ruído por ciclomotores, motociclos e veículos similares novos
http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=743
. A regulamentação como indutora de tecnologias ambientais para a redução de emissões tóxicas em veículos leves no Brasil
Autores: Orlando de Salvo Junior e Maria Tereza Saraiva de Souza (Centro Universitário FEI, São Paulo, SP)
Cadernos EBAPE.BR: vol.16 no.4 Rio de Janeiro out./dez. 2018 (versão on-line)
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-39512018000400748&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt