Seja óleo do motor, de transmissão, direção, ou de freio, até chegar ao seu veículo, os lubrificantes passam por um longo e cuidadoso processo de pesquisas e testes, tudo para garantir a qualidade do produto.
Leonardo Sánchez Urdaneta, consultor técnico da Raízen Lubrificantes, explica que um novo óleo nasce das demandas do mercado ou das montadoras, e alerta para a importância da escolha de matérias-primas, que faz toda diferença no resultado final:
“Ao utilizar insumos de qualidade, garantimos que o lubrificante terá um desempenho superior e atenda ou supere os requisitos do fabricante para cada aplicação”, afirma. Confira a entrevista completa:
Óleo Certo: O que deve ser levado em conta na hora de criar um lubrificante?
Leonardo Sánchez Urdaneta: Primeiramente, são definidos qual será a aplicação, as especificações e os níveis de desempenho que o lubrificante precisará atender. A partir daí, se faz a seleção de óleo básico e pacote de aditivos requeridos para a fabricação.
O principal ponto é saber qual será a aplicação e requisitos de desempenho necessários: É lubrificante de motor? Para linha leve ou diesel pesado? Para motocicleta? É para transmissão? Que tipo de transmissão? Manual, automática, CVT? Quais são os níveis de desempenho requeridos? O produto precisará ser homologado com alguma norma específica de montadora?
Óleo Certo: A partir de que momento a criação de um novo lubrificante é demandada?
Leonardo Sánchez Urdaneta: Pode surgir por uma demanda de uma montadora [um novo motor, uma nova transmissão] que vai requerer a formulação de um novo lubrificante para atender aos requisitos desse novo componente. Também pode ocorrer por alguma demanda de mercado como, por exemplo, a introdução de um novo nível de desempenho, como acontece neste ano de 2025, com a introdução do nível API SQ e ILSAC GF7. Isso ocasiona atualizações de fórmulas, ou lançamento de novos produtos para atender às novas especificações mencionadas, ao mesmo tempo que especificações anteriores podem passar a ser consideradas obsoletas pela ANP e, assim, proibidas de serem produzidas e comercializadas.
Óleo Certo: Quanto tempo leva para um novo lubrificante ser criado e ficar pronto? Quais as etapas desse processo?
Leonardo Sánchez Urdaneta: Após definir a necessidade de um novo lubrificante, seja para atender a uma nova especificação, ou a uma nova aplicação, se faz uma análise de viabilidade, que inclui todas as partes envolvidas no processo: produção, laboratório [pesquisa de componentes, incluindo óleos básicos e aditivos, e desenvolvimento da fórmula], técnica, comercial e logísticas.
É desenvolvida a nova formulação levando em consideração óleo básico [de 80 a 97% da composição do lubrificante] e aditivos [de 3% a 20% da composição]. São testadas diversas fórmulas, que devem de passar por rigorosos testes de calibração, qualidade e durabilidade, a fim de garantir que atendam aos padrões internacionais e níveis de desempenho exigidos. Todo esse processo pode demorar de três a seis meses [no mínimo].
Para que um lubrificante possa ser comercializado no Brasil, ele deve ser aprovado [e registrado] pela Agência Nacional de Petróleo (ANP). É requerido enviar documentação técnica do novo lubrificante para a ANP, que verifica se o lubrificante está de acordo com as normativas e requisitos legais para comercialização no território nacional. Esse processo pode levar de 60 dias até seis meses.
Uma vez aprovado pela ANP, se pode dar início ao processo de fabricação.
Óleo Certo: E, depois de atendidos todos esses requisitos para a criação de um novo lubrificante, como se dá o seu processo de fabricação?
Leonardo Sánchez Urdaneta: O lubrificante é uma mistura de óleo básico [80 a 97%] e aditivos [3% a 20%]. Após misturados no tanque, a homogeneização pode levar de 1h30 a 3 horas. Em seguida, são coletadas amostras de retenção de cada batelada produzida – até três amostras, dependendo do tamanho do tanque [do topo, do meio e do fundo]. Isso, a fim de garantir a correta homogeneização dos insumos. As amostras são enviadas para o laboratório para análise de qualidade, que pode levar de 24 a 48 horas. Uma vez aprovadas, o produto segue para ser envasado em recipientes plásticos [1 litro, galão, bombona de 20 litros, etc.], tambores, [contentores], ou para tanque granel.
Óleo Certo: Por que a seleção de matérias-primas é muito importante?
Leonardo Sánchez Urdaneta: Fazendo uma analogia com alimentos, podemos pensar que da mesma forma que os ingredientes de qualidade influenciam o valor nutricional e o sabor de uma refeição, o mesmo acontece com os lubrificantes. Usar óleo básico de qualidade inferior, ou aditivos que não atendam aos níveis de desempenho requeridos, influencia diretamente na qualidade e desempenho do produto final. Ao utilizar insumos de qualidade, garantimos que o lubrificante terá um desempenho superior e atenda ou supere os requisitos do fabricante para cada aplicação.
Óleo Certo: E como são feitos os testes de qualidade?
Leonardo Sánchez Urdaneta: Depois de coletadas as amostras de retenção de cada batelada produzida, são realizados diversos testes para corroborar que o lubrificante esteja dentro dos padrões especificados, a depender do tipo, nível de desempenho e aplicação. São verificadas diversas características físico-químicas, como aparência, se tem presença de água ou algum outro contaminante; densidade, viscosidade, formação de espuma, teor de metais, se a aditivação está dentro dos parâmetros requeridos, entre outros.
Em alguns lubrificantes, a exemplo dos fluidos hidráulicos, existem análises adicionais como demulsibilidade (capacidade de um lubrificante de separar da água) e contagem de partículas (para determinar o nível de pureza do produto acabado).
Óleo Certo: Os aditivos ajudam a definir como o lubrificante vai ser utilizado?
Leonardo Sánchez Urdaneta: Com certeza. Os aditivos reforçarão as propriedades que o óleo básico já possui ou adicionará novas propriedades. Dependendo do tipo de aplicação (motor, transmissão, hidráulico), diferentes propriedades e, por sua vez, de aditivos são requeridos. Um lubrificante para motor requer certos tipos de aditivos que não são necessários na aplicação de fluido hidráulico, e vice-versa.
Além disso, para atingir níveis de desempenho superiores e atender normas mais exigentes de cada montadora, é requerido o uso de aditivos superiores.
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