É verdade que o óleo lubrificante usado dos carros a gás fica com a cor mais clara? E o tempo para troca de óleo: continua o mesmo dos carros movidos a outros combustíveis, ou dá para andar um pouco mais? Populares, econômicos e menos poluentes, os carros movidos a gás natural veicular (GNV) estão cercados de mitos. Para explicar dúvidas, curiosidades e, principalmente, revelar os mitos que envolvem esse combustível, entrevistamos Denilson Barbosa, químico responsável da YPF Brasil, uma das principais fabricantes de lubrificantes da América Latina. Boa leitura!

Óleo Certo: Existem diferenças quando falamos de lubrificantes para carros a gasolina, a álcool ou GNV? Há especificações diferentes para cada tipo?
Denilson Barbosa: O lubrificante é o mesmo. A maioria das empresas até coloca isso no rótulo: que ele é adaptado para gasolina, etanol e GNV.

Óleo Certo: Se meu carro era a gasolina e fiz a adaptação para GNV, continua valendo o lubrificante que estava no manual?
Denilson Barbosa: Continua valendo aquele indicado no manual do fabricante.

Óleo Certo: Fala-se muito sobre a troca de óleo para carros GNV. Nesses veículos, como a combustão do gás contaminaria menos o motor, a troca de óleo poderia ser estendida? Isso é verdade ou mito?
Denilson Barbosa: É mito, porque, em contrapartida, o etanol, a gasolina e o diesel também têm a função de lubrificar o pistão. E o gás já não tem isso, a lubricidade do GNV é menor. Muitos dizem que o combustível líquido, como gasolina ou etanol, passa para o cárter e contamina o lubrificante, isso é verdade. O gás também, mas, em contrapartida, ele não tem a propriedade de lubrificação da gasolina. Então, é mito estender o período de troca de óleo. Você tem que manter a quilometragem ou tempo de uso corretos que o manual do proprietário indica.

Óleo Certo: É mito ou verdade que o óleo não fica velho e que, por isso, os motoristas não precisam se preocupar com a troca?
Denilson Barbosa: Também é um mito. Pode ser que o óleo oxide menos, mas as propriedades dele decaem muito, principalmente o TBN (Total Base Number), que é o índice total de alcalinidade ou de basicidade, é a detergência do lubrificante. A detergência dele vai decaindo, assim como os metais para proteção (cálcio, zinco, fósforo…). O óleo não escurece tanto quanto o do combustível líquido porque a contaminação é um pouco menor, só que a vida útil do lubrificante está sendo consumida.

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Óleo Certo: Nos carros movidos a gás, a aparência do lubrificante pode enganar o dono do carro. Esse óleo pode aparentar estar bom, mas, na verdade, já está danificado?
Denilson Barbosa: A aparência não diz tudo, porque só está relacionada à oxidação do óleo. Você não consegue enxergar o declínio da viscosidade, da detergência, dos metais de aditivação (fósforo, zinco, molibdênio…), nem do aumento dos metais de desgaste do motor. É mito ver pela cor se o lubrificante está bom. E como o consumidor não consegue fazer a análise como a gente consegue no laboratório, ele tem que seguir o recomendado pelo fabricante, que é o tempo ou a quilometragem.

Óleo Certo: Em geral essa cor é mais clara que a do óleo lubrificante no carro a álcool ou gasolina?
Denilson Barbosa: Sim, é um pouco mais clara.

Óleo Certo: Então, quem migrou de um tipo de combustível antigo para GNV pode acabar se enganando porque estava acostumado a ver uma cor e agora vê outra?
Denilson Barbosa: Pode ser enganado, sim, porque ali está um pouco mais claro que o de costume, mas as outras propriedades, a viscosidade, detergência e elementos protetivos, como fósforo e zinco, podem ter decaído. Ele não consegue enxergar isso, vai postergar a troca, e aí que começa o perigo: começa a ter desgastes no motor.

Óleo Certo: Quais defeitos são causados pelo mau uso do óleo lubrificante?
Denilson Barbosa: O típico, em carros um pouco mais antigos, é aquela fumaça preta saindo pelo escapamento, originada pelo desgaste do pistão no cilindro do motor. Tem uma passagem de lubrificante para o combustível, a queima fica incompleta e a fumaça sai pelo escapamento. Isso é um indício de mau uso do motor, o motorista andou muito tempo com o mesmo lubrificante. Como nos motores novos as folgas são cada vez menores, quando você deixa de trocar o lubrificante, a própria partícula de desgaste do motor começa a agredi-lo, a riscar o cilindro e a ter passagem do lubrificante para a câmara de combustão. Outro indício está na troca de filtro: o lubrificante vai ficando tão carregado de impurezas, e começa a tamponar o filtro, quando o obstruem, impedindo a passagem do óleo, forçando o trabalho da bomba de óleo. Quanto mais tempo se mantém o óleo sem trocar, mesmo no GNV, mais ele fica carregado com impurezas. E quando o óleo vai ficando velho, a temperatura do motor tende a aumentar, porque os aditivos de proteção do lubrificante vão se consumindo, e o motor começa a trabalhar com mais atrito, assim aumentando sua temperatura de trabalho.

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