A Arena de Lubrificantes, área especial da Rog.e 2024 realizou, no dia 26/9, o painel “Lubrificantes: Mitos e Verdades”. O evento é um dos maiores do mundo dedicados a discutir energia, com organização do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP).
Para responder a dúvidas muito comuns entre o público usuário de óleos lubrificantes, foram convidados os especialistas do Óleo Certo, Norma Souza, Luis Fernando Feijó e Marco Antônio Almeida. A mediação foi feita pelo jornalista André Iunes, da rid comunicação.
Em clima descontraído e em formato de talk show, eles responderam a questões que, em geral, estão cercadas de mitos. Confira os principais trechos:
Pode-se misturar óleo lubrificante de marcas diferentes quando baixa um pouco o nível?
Ou seja, o que fazer no caso de, emergencialmente, precisar completar o nível para não ficar com pouco óleo lubrificante?
“Se você mistura um óleo que não tem a mesma especificação do original, se o produto não é equivalente, você pode perder propriedades importantes. Seu óleo lubrificante pode ser de alta qualidade e, por causa da mistura, o motor pode perder a qualidade daquele serviço. Então, pense bem, antes de misturar”.
(Norma Souza)
“Se você se depara com essa situação, tem que completar o óleo, mas respeite a mesma viscosidade e o mesmo nível de desempenho. Quando chegar ao destino, troque. E troque o filtro de óleo também”.
(Marco Antônio Almeida)
Posso usar um óleo que não é homologado pela fabricante do meu veículo?
“Se o seu veículo está na garantia, não tem jeito, tem que usar o óleo homologado”.
(Marco Antônio Almeida)
Posso substituir o óleo original da transmissão automática por outro óleo?
“Existem três tipos de transmissão automática: CVT, câmbio automático e câmbio de dupla embreagem. Não dá pra substituir um pelo outro. Use a especificação que está recomendada no manual”.
(Marco Antônio Almeida)
Posso misturar fluidos de freio diferentes?
“Não. Porque existem três tipos de fluidos para freio: tipos 3, 4 e 5. O cinco é à base de silicone e os outros dois são à base de glicóis. E não há compatibilidade entre glicóis e silicone. Além disso, as borrachas de um sistema são para aquele fluido; se você completa com outro, elas podem estragar. Entre o tipo 3 e o tipo 4 tem uma diferença de ponto de ebulição, então, aqueles sistemas são condicionados para aquela propriedade específica”
(Norma Souza)
Carro antigo pode usar lubrificante de última geração?
“Carro antigo pode, sim, usar lubrificante mais moderno. Os óleos mais novos superam as classificações anteriores, têm grandes vantagens”.
(Luiz Feijó Lemos)
“Mantendo a viscosidade e classificação API superior, pode”.
(Marco Antônio Almeida)
Veículos com alta quilometragem devem usar óleos mais viscosos?
Segundo os consultores, é necessário sempre seguir a recomendação do fabricante do veículo. A manutenção correta dispensa o uso de óleos mais ”grossos”, ou seja, mais viscosos. Sendo assim, você pode continuar utilizando o lubrificante originalmente recomendado para o veículo.
Entretanto, caso os componentes do motor tenham sofrido desgaste devido a descuidos, manutenção incorreta, ou se você notar um aumento significativo do consumo de lubrificante e vazamentos, pode-se usar um produto do tipo alta quilometragem até a próxima troca e correção dos problemas mecânicos.
Se eu não uso o carro com frequência, preciso trocar o óleo com a mesma regularidade?
“O intervalo de troca correto consta no manual. Ele depende não somente da quilometragem, bem como do tempo de uso. Com o que prevalecer, você faz a troca de óleo. Há três condições severas que também impactam o período da troca. Primeira: rodar em grandes centros urbanos, o chamado ‘anda e para’. Segunda, quando roda muitos intervalos curtos, com menos de 5km e também com menos de dez minutos. A terceira é quando você roda em rodovias com materiais abrasivos [que causam desgaste] e poeiras que podem contaminar o filtro de combustível.”
(Luiz Feijó Lemos)
“O carro que roda pouco também tem problema, pois não exercitou o sistema para evaporar partículas que tenham contaminado o motor. Isso reduz em até 50% o intervalo da troca (Luiz Feijó Lemos)
“O uso em estrada [ao contrário do que muitos podem pensar] não é uma condição severa. [A condição severa] é ir ao mercado, depois na padaria, depois na farmácia… Aquele pouquinho de combustível [usado no trecho curto] vai contaminar o óleo. É o que chamam de borra fria, porque o óleo envelhece e oxida. Na estrada também tem essa contaminação, só que o veículo vai rodar tanto tempo em alta velocidade que vai aquecer o motor e eliminá-la”.
(Norma Souza)
“Em geral, o manual recomenda a troca com 10mil km ou um ano de uso. “A condição severa reduz pela metade esses intervalos”.
(Marco Antônio Almeida)
Os óleos de transmissão automática devem ser trocados juntos com o óleo do motor?
“Normalmente, não. Eles têm intervalos próprios de troca. Variam de fabricante para fabricante. Normalmente, câmbios CVT recomendam troca com 80 mil km, ou 4 anos. E tem fabricantes que, às vezes, colocam no manual que, quando há condições severas, esse intervalo cai para 40 mil km”.
(Marco Antônio Almeida)
“A transmissão automática já varia um pouco, [o intervalo de troca] é um pouco acima de 100 mil km, mas tudo está ligado ao tempo, [ou seja, a troca pode ser necessária com] 48 meses. Quando há condição severa, já recomendam a troca com 70 a 80 mil km”.
(Marco Antônio Almeida)
Deve-se adicionar aditivos ao óleo lubrificante?
“Não. Os óleos, quando são formulados, passam por inúmeros testes. O aditivo pode ter incompatibilidade com a própria aditivação que tem no seu lubrificante. Se você está usando um óleo, é porque ele foi testado e aprovado para cumprir [a lubrificação] com aquela especificação, sem necessitar de aditivação adicional”.
(Luiz Feijó Lemos)
Existe diferença entre lubrificante de carros e motos?
No passado, isso até acontecia, mas as tecnologias foram se desenvolvendo e, hoje, o recomendado é não misturar. O ideal é sempre usar o lubrificante indicado pelo fabricante da moto, garantindo a proteção adequada e o bom funcionamento de todas as partes do motor. Os especialistas explicam como o uso do óleo do carro na moto só poderia ocorrer em uma situação muito específica:
“A motocicleta tem um sistema compacto, normalmente com a especificação japonesa JASO. Você tem a especificação, justamente, para garantir que o óleo que está no motor não vai estragar o sistema de transmissão da sua moto”
(Marco Antônio Almeida)
“Se eu tenho um carro e uma moto [e quero usar o mesmo óleo nos dois], tenho que checar se a especificação e a viscosidade do óleo do carro e da moto são as mesmas. O inconveniente é pegar o do carro e usar na motocicleta porque, tranquilamente, ele não vai ter a especificação JASO”. Com esse uso, o motor vai ter “problemas de durabilidade, marcha, não vai engatar e vai ter embreagem patinando”.
(Marco Antônio Almeida)
“O óleo para moto tem que atender ao mesmo duas especificações: API e JASO. [Os motores das motos] sofrem severidade muito maior que motor de carro porque trabalham em velocidade superior e em temperatura elevada. Se o óleo do carro atender a API e a JASO, pode ser usado no motor da moto”.
(Luiz Feijó Lemos)
Óleo do motor escuro: está na hora de trocar?
Uma das principais funções do lubrificante é limpar o motor. Ou seja, se o óleo está sujo, significa que o motor está limpo. A troca deve ser feita de acordo com o indicado no manual do fabricante do veículo, mas, em relação à cor do óleo, a especialista do Óleo Certo faz uma observação:
“O motor a gás tem a queima mais limpa, então, você vê um óleo usado mais claro, mas ele tem que ser trocado”.
(Norma Souza)
Lubrificante sintético é só para carro importado ou esportivo?
“Mito. Óleo sintético está em linha com a nova tecnologia de motores que vem com os últimos dois Proconves [Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores]”.
(Marco Antônio Almeida)
Uso de óleo para motores a diesel em motores a gasolina ou álcool não dá problema?
“As formulações exigem componentes diferentes. A queima do diesel é mais suja e o motor a gasolina tem desgaste maior. Há duas formulações diferentes nos componentes. Se usar um no outro, o motor a diesel vai ficar mais sujo e o motor a gasolina vai ter mais desgaste”.
(Norma Souza)
“Isso é muito popular com lubrificantes da classificação API, que foi criada nos EUA para haver facilidade de frotas mistas, mas nunca é a melhor opção econômica. Pode usar, mas respeite a viscosidade”.
(Marco Antônio Almeida)
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