O setor de lubrificantes contribui para que o agronegócio seja uma das potências do Brasil. O mercado movimenta mais de cem milhões de litros de óleo por ano somente para utilização nos equipamentos que auxiliam o agricultor e o empreendedor que atuam no campo, como destaca Thales Khede, gerente comercial do segmento agro da empresa Mobil, uma das maiores do país. “Os tratores e colheitadeiras são os equipamentos que mais utilizam lubrificantes, com alguns sistemas que chegam a necessitar de mais de 200 litros em um único enchimento para rodagem”, explica. Saiba mais nessa entrevista exclusiva ao Óleo Certo:
Óleo Certo: Podemos traçar um perfil do setor de lubrificantes no agronegócio? Quanto esse setor movimenta de produto?
Thales Khede: O agronegócio no Brasil apresenta crescimentos constantes desde a década de 1980, tendo nos últimos quinze anos um salto expressivo devido a maior competitividade brasileira. O Brasil ultrapassou pela primeira vez a marca de 300 milhões de toneladas no ano de 2023.
O crescimento da produção foi muito superior ao crescimento da área territorial utilizada para plantio, o que, consequentemente, elevou o uso de novas tecnologias para aumento de produtividade. Somente a título de comparação, a produtividade agrícola aumentou 58% no Brasil desde o ano 2000, enquanto, no mesmo período, o crescimento foi de 37% nos países emergentes e 32% nas economias avançadas. Ainda assim, existe um grande espaço para crescimento de produtividade aliado a novas tecnologias através de equipamentos de irrigação, tratores e colheitadeiras de precisão, etc. Neste último, destaca-se o avanço no Brasil de equipamentos com mais de 500cv de motorização, como John Deere e Fendt, e colhedoras e plantadeiras de mais de 40 linhas.
Em termos de lubrificantes, o setor movimenta mais de cem milhões de litros de óleo por ano somente para utilização nos equipamentos que auxiliam o agricultor e o empreendedor seja no plantio, na colheita e também na indústria de transformação dos insumos.
Em termos financeiros, o agronegócio movimenta no Brasil, por meio de todo o seu encadeamento setorial + saldo da balança comercial, mais de 25% do PIB brasileiro, ultrapassando a marca de R$ 2,5 bilhões em faturamento.
Óleo Certo: Quais são os maiores mercados de lubrificantes no agronegócio?
Thales Khede: Os maiores mercados de lubrificante agrícola no Brasil estão nos estados do Paraná, Mato Grosso, Bahia e São Paulo. Importante reforçar que temos estados com grandes crescimentos de áreas de plantio e tendem a ter maiores consumos de lubrificantes, como Goiás, Maranhão, Piauí, Pará e Rondônia.
Óleo Certo: As máquinas e veículos agrícolas demandam algum tipo de lubrificante especial? Se sim, quais as especificidades dos óleos utilizados por esses equipamentos?
Thales Khede: As máquinas e equipamentos agrícolas possuem uma grande gama de aplicações. Usualmente, equipamentos como tratores e colheitadeiras utilizam, ao menos, sete tipos diferentes de produtos em pontos variados de lubrificação, e dentro destes, existem utilizações que vão desde o mineral, passando pelo semissintético, até chegar no sintético. Ou seja, existe um importante sortimento de produtos atrelado à consultoria de lubrificação de equipamentos.
De maneira geral, os maiores consumos de equipamentos agrícolas estão em lubrificantes de motores na viscosidade 15W-40 minerais e semissintéticos, óleos multifuncionais de viscosidade 10W-30 e 20W-30?? e óleos hidráulicos de viscosidade 68 e 100. Além dessas aplicações, que representam mais de 80% do consumo total, temos uma grande aplicação de graxas e fluidos de arrefecimento (coolants).
Óleo Certo: Quais tipos de condições o lubrificante voltado às máquinas agrícolas enfrenta no dia a dia de trabalho no campo?
Thales Khede: Os lubrificantes agrícolas passam por condições severas de utilização, que vão desde o uso por várias horas durante a colheita [exemplo: safra de cana, em que a colheitadeira funciona, no mínimo, 18 horas por dia], passando também por utilização em condições extremas de temperatura/clima. Por último, mas não menos importante, enfrentam grandes desafios relacionados à contaminação e poeira no campo, tanto no período de plantio e colheita, quanto no período de preparação de solo.
Óleo Certo: Onde há maior demanda de lubrificantes no campo? Quais tipos de máquinas demandam mais?
Thales Khede: Os tratores e colheitadeiras são os equipamentos que mais utilizam lubrificantes no campo, com alguns sistemas que chegam a necessitar de mais de 200 litros para um único enchimento para rodagem. Somente para exemplificação, um trator chega a rodar até 3 mil horas por ano em algumas culturas e faz, com isso, pelo menos seis trocas de óleo de motor e de duas a três trocas de óleo multifuncional durante esse período.
Óleo Certo: O agronegócio está em expansão. Na sua opinião, isso motiva também o setor de lubrificantes a criar novos produtos para este setor? Se sim, onde podemos perceber a maior evolução tecnológica dos lubrificantes para este segmento?
Thales Khede: Com certeza. A tecnologia traz consigo a otimização de produtividade e menos paradas de manutenção no campo. Os lubrificantes Mobil™ estão na vanguarda de algumas dessas tecnologias do campo, tendo recentemente lançado o primeiro lubrificante semissintético 15W-40 API CK-4 para equipamentos agrícolas, com intervalo de troca estendido para 750 horas. Esse é o maior intervalo de troca da categoria, que, além de reduzir o número de paradas para troca de óleo, também diminui os custos de manutenção e, em linha com o desafio de ESG, reduz o consumo de lubrificante por equipamento.
Óleo Certo: Qual a expectativa para o setor de lubrificantes voltados para o agronegócio em 2024?
Thales Khede: O ano de 2024 será desafiador para o mercado agrícola por alguns motivos, tais como as questões climáticas do El Niño, que prejudicou intervalos importantes de chuva e estiagem, reduzindo a produtividade por hectare aqui no Brasil. Adicionalmente, os bons resultados de safra em outros grandes países produtores estão reduzindo o preço dos insumos agrícolas globalmente negociados na bolsa de Chicago.
Ainda que o Brasil seja líder ou vice-líder em pelo menos sete grandes commodities globais, existe uma expectativa de redução na ordem de 4% na safra de grãos deste ano. Vale ressaltar o crescimento de 15% no ano de 2023 versus2022, ou seja, mesmo com esta queda, ainda estamos em grande patamar de crescimento.
Ponto importante também está na alta taxa de juros que ainda assolam os financiamentos de maneira geral. Os bancos públicos, que antes eram grandes financiadores do agronegócio, têm perdido considerável espaço nos financiamentos para os bancos privados e, devido a políticas de créditos mais restritivas e menor carência nos prazos de pagamento, levaram o agricultor a adiar as decisões de compras de máquinas novas, aderindo à reforma de equipamentos.
Falando de lubrificantes em si, existe a expectativa de manutenção do volume total de mercado, porém, com o envelhecimento do parque de máquinas, existirá grande pressão nas vendas de produtos genuínos de montadoras, que tendem a cair seus volumes. Com isso, acreditamos que haverá muito mais potencial para venda dos lubrificantes Mobil™ por toda a tecnologia e garantia de qualidade e excelência no mercado, em substituição aos produtos genuínos em final de período de garantia.
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